ABERTURA AO NOVO
No mundo das letras acontece cada coisa, me dizia o velho professor. Ele tinha acabado de desistir de escrever, Deus sabe lá porque motivos. Mas, dizia que tinha os seus motivos. Eu o olhei, e tinha um monte de perguntas para fazer, que não fiz. Vim-me embora, deixando-o quieto em sua casa naquele dia. E resolvi não incomodá-lo mais. Muitas vezes pensei em voltar lá. Eu tinha achado ótimo conversar com ele. Sem orgulho eu aprendera muita coisa com ele. Mas uma coisa que eu não esquecera sempre me vem à mente.
É que ele me dissera:
- Não pense, escreva.
Mas eu não aprendi isso com ele. E continuei preferindo pensar antes de escrever. Simplesmente porque para mim, escrever é como falar. E na vida eu precisara sempre da afirmação:
- Pense para falar.
Isso fez de mim um sujeito cauteloso, o que me evitou muitos contratempos. Hoje aqui pensando, eu sei que ele ao recomendar que eu não pensasse, queria de mim um representante de tudo o que ele não conseguira. Ele esperou a vida inteira para ser uma espécie de escriba que fizesse de seus trabalhos um grande hino em prol da liberdade.
E então ele morreu. Sem se tornar o grande libertador. E mais uma vez eu pensei:
- De que queria o professor se libertar?
E me respondi:
- De tudo. De toda a tralha velha literária que ele passara a vida ensinando. E então se ele se livrasse do que ensinava, ele se tornaria novo. No sentido de produzir literatura muito nova. E partiria pelo mundo em busca de aprender com os novos. E porque ele dissera a mim para não pensar e escrever? Porque ele tinha lido textos meus e me confessara ter visto qualidade nos meus escritos, assim como o frescor da novidade literária. Muito interessante aquele velho professor. Velho só na idade, mas aberto ao novo.
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